sábado, 10 de setembro de 2011

De discotecario a DJ

Aos 6 anos de idade meu tio avô me levou ao seu trabalho (eletricista da radio Mundial AM) a antiga 860...Lá quando cheguei vi um cara gordinho de boné a lá Jackson five tagarelando ao mic e colocando umas musicas muito loucas...Achei aquele cara D+...
Perguntei ao meu tio o que aquele rapaz fazia e meu tio avô me disse que ele era um discotecario.
Quando cheguei em casa meu tio me deu um radio philco de mesa transglobal para ouvir os programas da Mundial.

Como eu muito de vcs também tiveram alguns ídolos q os inspiraram a ser o que vcs são hoje.
Eu passei 2 anos ouvindo outros discotecarios tocando, pesquisei, estudei para depois começar a me arriscar perante ao publico. Hoje, ficou tão fácil que o rapaz baixa um programa na internet e vai fazer a festa de aniversário da coleguinha de escola.
Mas se eu for analisar o que aconteceu 35 anos atras, hoje esta mais flagrante do que nunca. Ninguém nunca me ajudou tudo aconteceu por que eu fiz por onde acontecesse. Naquela época sem musica vc não era dj e musica nova custava caro. Então para arrumar musica boa e de qualidade vc tinha q correr as boates,bailes e festinhas,conhecer os nomes para poder tentar comprar os importados que vinha semanalmente do exterior. Muita coisa estava envolvido no ser DISCOTECARIO.
Para vc conseguir as amizades muitas vezes vc tinha que entrar para a equipe e para isso começava de baixo, carregando caixas. As caixas não eram como hoje,portateis era monstruosidades como as 4550, 4520 e as 4560 JBL além disso eram 80 caixas de som q formavam o paredão...tira do caminhão sobe escada,sobe palco e vai montando 1,2 e ate 3 andares...tudo para poder estar nos bastidores e poder chegar perto do Discotecario da equipe e talvez vc, se tivesse algum talento pudesse em um ano de equipe ir fazer as lentas ou abrir baile.

Fazer amizade com os que tocavam muitas vezes não era carta branca q vc saberia os nomes das musicas. Muitas vezes os rótulos eram bloqueados...e alguns faziam questão de manter a galera longe.
Havia sim alguns que ate te davam nomes trocados e te indicavam discos horrorosos...a piranhagem entre discotecarios já existia.
E o maladromo? Quantas brigas e verdadeiras porradarias por causa de um só vynil?
E tinha discotecarios q verdadeiramente se odiavam. Rivalidade era ao ponto de querer colocar o outro pra fora do meio.
A classe nunca foi unida.
Passávamos por tudo. Péssimas condições de trabalho, de equipamento ruins a abuso de patrões. Longos horários; sem refeição,respirando fumaça de cigarro,abuso de bêbados...em 1980 conheci a Sandra que já naquela época puxava por uma regularização e união dos djs,imagine...naquela época um garota discotecaria, o que ela não passou!!

Me lembro q trabalhava na Praça Mauá na boate Florida,segundo andar,cabine minúscula sem ventilação q parecia uma sauna. Quando vi a Sandra pensei que era uma garota de programa...quando ela se apresentou como discotecaria, também pensei: Hiiii vai querer roubar meu emprego...Depois conversando vi que ela era bem intencionada e que era bem empregada(trabalhava na zona sul,chique!) Ela me deixou um folheto de inscrição para a associação de djs...cara eu botei de lado e me esqueci.
Pois é...um ano depois ela apareceu de novo com um diploma e de novo com outro papel de inscrição...guardei o diploma q tenho ate hoje...a inscrição joguei fora...
E os anos foram passando e sempre que aparecia a oportunidade de um reunião de djs tava lá a Sandra...vamos unir, vamos lutar pela profissão...Porra, eu via a mulher eu já corria...

E os tempos passaram ficamos mais velhos e experientes.
E de discotecarios passamos a djs. O que era difícil ficou impossível...ate as gravadoras que eram nossas melhores amigas passaram a nos chamar de piratas!
De divulgadores a piratas! Wow...Veio a internet e tudo mudou. Agora não tinha mais exclusividade todo dj era igual. O Vynil morreu e veio o CD...com ele o gravador de cds e todo mundo estaria gravando seu cdzinho.
E o Discotecario(agora DJ) continuou sifudendo nas mãos de donos,gerentes e promoters.
Meses sem receber,recebendo pagamento parcial,trabalhando 60-70 horas por semana,
tendo seu FGTS roubado, comendo comida estragada...quem não passou por isso?
E ficar doente podia significar ficar sem emprego pq algum outro dj podia puxar seu tapete, portanto nem esse direito se tinha.(ou tem)
Seguro Saúde? Brincadeira né? Fila do SUS e olhe lá! Durante minha carreira,vi um monte de discotecario(DJ) morrer bem jovem, é preciso listar???

No enterro do Marquinho Alô Alô alguem viu o dono da casa noturna q ele trabalhava? Alguem viu o Rica,o chinês ou o Nordestino lá?(vc sabem de quem estou falando!) Nem uma coroa de flores. Outros grandes djs se foram e deixaram saudades. As dificuldades do dia a dia do dj continuaram e com a velhice se aproximando a gente se lembra daquela garotinha q ninguém queria dar atenção...E lembrar q como ela estava certa...
Hoje estamos ai 30 e tantos anos depois na mesma merda, porque? Porque fomos idiotas com o ego inflamado se achando o TOP PICA DAS GALÁXIAS e o que amamos fazer se transformou no circo que hoje está. E a culpa disso É NOSSA!
Agora a Sandra continua ai tentando e eu acho que esta na hora de todos nós descermos de nossos altos cavalos e termos a humildade de apoiá-la para que um dia essa profissão que escolhemos e amamos não morra.
Então todos nós, desde o top dj ao dj de inferninho, do dj de Live ao dj de pvt nos aliar por essa causa quem sabe um dia teremos uma profissão digna de um trabalhador Brasileiro.

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